Biblioteca Joanina Digital abre-se ao mundo: Universidade de Coimbra apresenta plataforma em parceria com a Autoridade Literária de Sharjah
No passado dia, 3 de outubro, a Universidade de Coimbra (UC) promoveu o lançamento da plataforma da Biblioteca Joanina Digital, projeto com o apoio da Autoridade Literária de Sharjah. A sessão centrou-se na apresentação pública dos resultados do projeto-piloto — com destaque para a coleção digital dedicada ao Médio Oriente, um recurso precioso para a investigação sobre a presença dos portugueses no Golfo e Península Arábica.
No âmbito desta cerimónia, o Emir de Sharjah e Membro do Conselho Supremo dos Emirados Árabes Unidos, Sua Alteza Xeque Dr. Sultan bin Muhammad Al-Qasimi, apresentou a sua mais recente obra, dedicada, precisamente, à história da região. O programa da visita incluiu também a inauguração do Centro de Estudos Árabes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC).
O projeto Joanina Digital, iniciado em fevereiro de 2024, visa a digitalização e disponibilização de cerca de 30 mil volumes do Piso Nobre da Biblioteca Joanina, até 2030 — um novo arquivo patrimonial composto por cerca de 18 milhões de páginas. O projeto resulta de uma parceria entre a Universidade de Coimbra e a Sharjah Book Authority, com o alto patrocínio do Chefe de Estado do Emirado de Sharjah.
“Espero que esta parceria continue, para preservar a nossa herança humana e elevar o estatuto do conhecimento para iluminar o caminho para as gerações futuras. A partir de hoje, afirmamos ao mundo que, embora a cultura não mude a geografia, muda a forma como a vemos. A cultura não apaga fronteiras, mas pode transformá-las em pontes vivas e espaços de conexão. A cultura não reescreve a história, mas muda a forma como a lemos”, declara Sua Alteza Xeque Dr. Sultan bin Mohammed Al Qasimi, destacando também a inauguração do Centro de Estudos Árabes. “O novo centro reflete um desejo sincero de dar à cultura árabe espaço para crescer, conectar-se e contribuir para o diálogo. A cultura árabe é uma parte essencial do nosso legado humano partilhado, e esta iniciativa para falantes não árabes oferece uma oportunidade valiosa para explorar a profundidade da civilização árabe e os seus amplos horizontes para o futuro”, afirma.
“Este notável projeto de digitalização conhece hoje um passo determinante, com o lançamento público da sua primeira secção: a Coleção Digital do Médio Oriente. O projeto total de digitalização de cerca de 30.000 volumes (quase 20 milhões de imagens) do Piso Nobre da Joanina irá, contudo, muito além da simples mudança de suporte material dos livros ou da transposição do papel para o digital. Traduz-se num esforço programático de valorização do acervo único desta Biblioteca, mas constitui também um convite a todos os povos para cruzarem as suas memórias e referências culturais, abrindo novas vias de colaboração académica, científica e tecnológica”, refere o Reitor da UC, Amílcar Falcão, notando que também que o novo Centro de Estudos Árabes “será um espaço de diálogo e de investigação, capaz de fortalecer laços de cooperação académica, científica e cultural entre a Universidade de Coimbra e instituições universitárias e culturais do mundo árabe”.
No período piloto foram estruturados os processos técnicos e desenvolvida de raiz a arquitetura da plataforma, com a digitalização de cerca de 160 mil páginas e a catalogação de 3.343 volumes, preparando a publicação progressiva de novos conjuntos documentais.
Desenvolvida pela UC Framework (departamento tecnológico da UC NEXT, uma empresa criada e detida pela Universidade de Coimbra), a plataforma disponibilizará imagens fac-similadas e texto pesquisável, adotando princípios de ciência aberta e de interoperabilidade e assegurando a integração das futuras coleções na rede Europeana. O projeto promove o acesso, gratuito, a este acervo único, composto por obras desde os primórdios da tipografia até finais do século XVIII, incluindo cartografia e outros documentos históricos. A plataforma incorpora inovações tecnológicas ao nível das ferramentas de pesquisa, por exemplo, com recurso à inteligência artificial, potenciando novas formas de leitura e de análise — incluindo a mineração de dados. Neste plano técnico-científico, «o projeto da Joanina Digital vai muito além da simples disponibilização, num novo formato, deste precioso acervo bibliográfico: comporta em si inovação tecnológica alinhada com as melhores práticas de Ciência Aberta, promove a descoberta e investigação colaborativas, conectando pessoas de todo o mundo e aproximando culturas, sem entraves nem limitações», destaca o Vice-Reitor da UC para a Cultura e Ciência Aberta, Delfim Leão.
Em paralelo, a exposição «Joanina Digital – Para além do ecrã», agora inaugurada, dá a ver algumas das obras mais representativas em processo de digitalização e convoca temas fundamentais para o tratamento técnico e estudo deste acervo, como a da proveniência, ou a da materialidade própria de cada exemplar, evidenciando outros impactos do projeto, nomeadamente para o restauro e conservação deste património. Como explica Manuel Portela, diretor da BGUC, «digitalizar uma biblioteca de livro antigo é muito mais do que transpor páginas para o ecrã: é uma operação crítica que permite reativar o património como objeto de leitura e investigação. A Joanina Digital abre novas possibilidades de análise — dos textos e imagens às estruturas de organização da coleção — e possibilita estudar a própria biblioteca como sistema de informação, formulando perguntas inéditas e preservando, ao mesmo tempo, a memória material e a história de cada exemplar».
A cerimónia contou com a presença da Presidente da Autoridade Literária de Sharjah, Sua Alteza Sheikha Bodour bint Sultan Al Qasimi; do Vice-Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Francisco Veiga; da Presidente do Conselho Geral da Universidade de Coimbra, Maria da Glória Garcia; do Embaixador dos Emirados Árabes Unidos em Portugal, Ahmed Abdelrahman Ahmed Ali AlMahmoud; assim como de altos funcionários portugueses, diplomatas árabes e representantes de instituições culturais e académicas em Portugal e nos Emirados Árabes Unidos.
Fonte: Universidade de Coimbra