Fortaleza de Sagres acolhe eventos do Costa Vicentina Early Music Festival, a 23 e 24 de agosto
A Fortaleza de Sagres, com as suas profundas ligações aos Descobrimentos, constitui um espaço privilegiado para refletir sobre a presença das comunidades africanas na sociedade portuguesa. Nesse sentido, este monumento associa-se ao Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravos e da Sua Abolição, que se assinala no próximo dia 23 de agosto, acolhendo, nesse dia e no seguinte, eventos inseridos na 3.ª edição do Costa Vicentina Early Music Festival.
Deste modo, a 23 de agosto terá lugar o concerto comentado «Forro ficamo — Sons Cativos», pelo Ensemble Antiquorum, a acontecer pelas 17 horas.
Através de uma seleção de obras musicais dos séculos XVI e XVII, é evidenciada a criação, na Península Ibérica, de sonoridades únicas no panorama da música europeia, demonstrativas dos intercâmbios culturais produzidos e da importância da presença entre nós das comunidades africanas e das suas expressões musicais, muitas das quais expressam o sentimento de dor e perda pelo abandono forçado das suas terras em condições desumanas e de privação de liberdade. Assim, o programa desenrolar-se-á ao longo de uma linha narrativa que vai intercalando a música africana, tal como era percecionada pelos músicos ibéricos, com obras que tentam mostrar o outro lado deste intercâmbio — desde a partida e desterro forçados, às ocasiões públicas de baile e festa, aos momentos de adoração e súplica ao divino cristão e pagão, às manifestações de desejo de liberdade (que forro ficamo, ou «que ficamos livres», é uma frase cantada por um coro de escravos na última peça do programa). O concerto apresentará um panorama dos vários géneros e estilos associados à presença africana na Península Ibérica, desde as mais festivas ensaladas negrinas e vilancicos de negro, à música mais solene e intimista de Vicente Lusitano, o primeiro compositor mestiço na História da música ocidental. Durante o concerto, haverá breves comentários sobre estes diferentes momentos musicais, para que a música possa ser devidamente contextualizada e, deste modo, ouvida e sentida em todas as suas dimensões.
Com Joana Guiné (tiple), Fátima Nunes (tiple), Nuno Raimundo (alto e direção), Gabriel Neves dos Santos (tenor), Tiago Mota (baixo), Pedro Martins (alaúde, viola de mão e guitarra barroca), Iúri Oliveira (percussão) e Ana Sousa (viola da gamba e direção).
No domingo, dia 24 de agosto, pelas 14 horas terá lugar a oficina /performance PONTO CORRENTE, com Ana Celorico Machado.
A partir de uma perspetiva das artes visuais, a memória do tráfico de pessoas escravizadas, tão intrinsecamente ligada à expansão portuguesa, o caminho percorrido até à sua abolição, e as suas marcas sociais e patrimoniais contemporâneas serão trabalhadas numa oficina/performance, que deixará como traço uma exposição temporária durante a duração do festival.
A oficina/performance, que tem a duração de duas horas, terá como base um conjunto de fotografias atuais tiradas na Fortaleza de Sagres, onde se propõe uma atividade de intervenção sobre essas imagens.
Ainda no dia 24 de agosto, pelas 16 horas, terá lugar a palestra intitulada “A presença e influência da música africana em Portugal no Renascimento”, por Nuno de Mendonça Raimundo, musicólogo, investigador do Centro de Estudos em Música da Universidade Nova de Lisboa (CESEM), especialista em música antiga ibérica, com várias publicações e comunicações sobre este tema e orador convidado em diversos eventos, sendo também codirector do ensemble Antiquorum