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Loulé reafirmou importância da liberdade nas celebrações da restauração da independência

Quase quatro séculos depois, Loulé juntou-se este domingo, 1 de dezembro, às comemorações da Restauração da Independência, com uma cerimónia realizada junto à Ermida da Nossa Senhora da Conceição. 

Uma coroa de flores foi depositada na fachada deste edifício eclesiástico, símbolo da Restauração. A Ermida foi construída por ordem de D. João IV, no seguimento deste momento histórico, em que o monarca consagrou Nossa Senhora como Padroeira de Portugal.

Há 384 anos, no dia 1 de dezembro de 1640, 40 conjurados e cerca de 120 conspiradores invadiram o Paço da Ribeira, em Lisboa, para lutar pelo seu direito à liberdade e independência, derrubando a dinastia espanhola que governava Portugal desde 1580. Esta revolta culminou na autonomia portuguesa, após 60 anos de união ibérica, no reconhecimento e afirmação de Portugal como um país independente e livre.

“Hoje honramos não só a nossa história, como também o nosso património. Os louletanos juntam-se a todo o povo português e relembram e assinalam com gratidão a independência que nos foi legada nessa madrugada de 1640 e que nos permitiu sonhar com a liberdade. Celebramos a nossa história, os nossos antepassados e honramos a nossa cultura, a nossa língua e sobretudo a nossa liberdade”, disse Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, durante o seu discurso protocolar.

O autarca notou a importância de, nos dias de hoje, e passados quase 400 anos, cuidar da liberdade adquirida. “Infelizmente a liberdade não é um bem adquirido para sempre. Frágil e muito cobiçada, precisa de ser alimentada todos os dias e de ser respeitada”, considerou.

Nesta celebração de um acontecimento tão importante para a história nacional, Carlos Aquino, pároco de Loulé, referiu três importantes desafios que se colocam à própria Igreja, a liberdade, a identidade e uma renovação pessoal e comunitária. “É preciso lutarmos contra essa velharia opulenta ainda tão presente nas nossas instituições e também na nossa Igreja, muito agarrada a uma religiosidade supersticiosa onde muitas vezes é compadrio desses ‘ismos’ que devemos banir para que a nossa liberdade seja autêntica: o fanatismo, o racismo, o xenofobismo, o populismo, entre outros…”, advertiu.

Após a sessão protocolar, o programa comemorativo da Restauração ficou ainda marcado por uma conferência no Arquivo Municipal – Professor Joaquim Romero Magalhães, apresentada por Leonor Freire Costa, sobre “As três armas de D. João IV:  a diplomacia, o Brasil e os grandes financeiros”.

Habitualmente vemos a Restauração como um acontecimento nacional, “mas este é um acontecimento europeu”. “Deve muito, nas suas consequências mais próximas e mais longas, a uma orquestração às vezes que nos parece ser de espionagem, de trabalho intensivo das embaixadas, e de informação e contrainformação. Vamos ver o lado muito moderno desta Restauração no patamar político da época, mais do que económico”, explicou a conferencista, referindo embaixadores que tiveram um papel preponderante como Francisco de Sousa Coutinho ou o Padre António Vieira.

Um dos maiores obstáculos diplomáticos de Portugal veio com a rebelião dos colonos no Brasil contra o Países Baixos que ocupavam Pernambuco desde 1630.

“O Brasil entrou como uma moeda mais importante na negociação com as Províncias Unidas (vulgarmente conhecido como sendo a Holanda). Desde 1630, uma parte do Nordeste está ocupada por uma das companhias comerciais desta república. A Restauração tem uma intenção de repor o status quo anterior a esta ocupação, alegadamente porque essa ocupação tinha sido na sequência de uma guerra que os Países Baixos tinham com os Habsburgo. Quando a Restauração se dá há uma forte expectativa que o problema do Brasil esteja resolvido e afinal não está. O Brasil vai ser recuperado, uma recuperação entregue ao capital privado”, disse ainda Leonor Freire Costa.