Como responder à falta de água e ao aumento habitacional no Algarve? Solução poderá passar pelo autoconsumo e construção de ‘edifícios vivos’ assentes na Inteligência Artificial
O Algarve é uma das regiões mais afetadas pela seca em Portugal. Esta situação dramática, e silenciosa, resulta das alterações climáticas, da gestão ineficiente dos recursos hídricos e da elevada pressão turística. Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, desde 2012 que a precipitação está 29% abaixo da média e as reservas de água atingiram valores críticos, com o armazenamento das albufeiras a situar-se em níveis inferiores a 50%. Com aquíferos sobre explorados e racionamento de água em áreas económicas chave para a região, como Agricultura e Turismo, há riscos sérios para a população e ecossistemas locais.
Este cenário agrava-se com a pressão do consumo, tanto hídrico como energético, decorrente do aumento do número de fogos habitacionais. O incremento dos custos da construção e as atuais metas europeias para a descarbonização do setor, tanto em edifícios como nos produtos utilizados, colocam desafios acrescidos.
Estas foram algumas das principais conclusões e números apresentados no 2.º Congresso Internacional que decorreu, na passada quinta-feira, dia 3 de outubro, em Vilamoura. O evento, que teve como tema “O futuro do Algarve: recursos, edifícios e economia”, contou com a participação de David Pimentel, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Loulé, e de João Rodrigues, Vice-Reitor da Universidade do Algarve, além de diversos especialistas nacionais e internacionais das áreas do ambiente, energia, construção e climatização.
O autarca revelou que 27% da água do Município de Loulé não é faturada devido a perdas na rede e deu a conhecer a significativa redução do consumo de energia em edifícios e serviços do concelho, fruto da aposta em painéis fotovoltaicos. “A grande dificuldade é mostrar a eficácia da eficiência energética”, atestou David Pimentel.
O Vice-Reitor da Universidade do Algarve desvendou que a academia tem desenvolvido linhas de investigação na área dos edifícios vivos e da Inteligência Artificial, “na qual os humanos estão no centro”. “A sensorização vai permitir às casas adaptarem-se às pessoas, de acordo com os seus perfis”, justificou.
“Há um crescimento do fotovoltaico na Europa e em Portugal” e “16% da energia fotovoltaica nacional é produzida na região do Algarve”, avançou Manuel Casquiço, da ADENE – Agência para a Energia. De acordo com o responsável, este é “um grande desafio para a rede” energética, não só ao nível “da capacidade”, mas também do próprio “congestionamento”.
Em matéria de recursos hídricos, “o consumo urbano, a agricultura e o golf representam 100 hectómetros de água por ano na região”. Para Pedro Coelho, da Agência Portuguesa do Ambiente/Administração da Região Hidrográfica do Algarve, “é preciso haver uma boa articulação entre as entidades e os utilizadores”.
A solução para fazer frente a esta pressão hídrica e energética passa, inevitavelmente, pelo autoconsumo. A gestão eficiente da produção local, assente em novas tecnologias, nomeadamente a Hidrogénio, garantirá a sustentabilidade ambiental, social e económica da região.
Para Vasco Silva, Diretor-Geral da Giacomini Portugal, as “50.000 bombas de calor instaladas em Portugal no ano de 2023 são um pequeno passo”, dado que “85% dos edifícios nacionais são anteriores a 2020 e, destes, 75% tem um fraco desempenho energético”.
“Este cenário dramático, vivido particularmente a sul do país, exige medidas urgentes e integradas por parte do Estado, das entidades gestoras, dos vários setores utilizadores de água e da própria sociedade civil”, acrescentou o responsável.
Promovida por duas empresas de referência nos setores da climatização, a Giacomini, com sede em Itália, e a Canalcentro, fundada há 36 anos em Leiria e com filial em Lisboa e em Loulé, a iniciativa mobilizou perto de duas centenas de profissionais com conhecimento e experiência no mercado da região do Algarve.