Cara de espelho, ballet do Brasil e dança de moçambique dão vida ao cineteatro Louletano em março
Em março, a programação não cessa de surpreender e tem um toque internacional, com “traços” do Brasil, Moçambique, Magreb e França. Mas há ainda espaço para teatro no feminino, com Sandra Barata Belo, e para a primeira edição do Mercado Periférico, um evento que terá concertos, palestras e a presença de várias editoras com merchandising.
Março arranca, no dia 1, com uma coprodução do Cineteatro Louletano. Trata-se de “Livrar-me”, peça de Sandra Barata Belo e Raquel Oliveira, às 21h00. Em “Livrar-me”, uma mulher conta-se como se fosse a narradora da sua própria vida, antes de ficar completamente às escuras. Como uma personagem de um livro que nunca chegou a acontecer, ou de uma história que pelo contrário não deixa nunca de se desenrolar. É através dos livros que entra em diálogo com o passado, numa família de mães e filhas e numa conversa sem nunca ter a certeza de ter voz, no silêncio.
No dia seguinte, dia 2, sábado, também às 21h00, Loulé recebe os “Cara de Espelho”, banda “acabadinha de fazer”, mas que traz na bagagem o lastro de vários companheiros de estrada. A banda resulta do encontro de vários nomes que marcaram a música portuguesa nos últimos anos: Deolinda, Ornatos Violeta, Gaiteiros de Lisboa, A Naifa, Humanos, entre outros. O ponto de partida são as palavras e composições de Pedro da Silva Martins (autor e compositor de Deolinda, Ana Moura, António Zambujo, Lena d’Água). Os dois singles de estreia, “Corridinho Português” e “Político Antropófago” buscam influência na riqueza da música popular e tradicional, mas deixando transparecer um carácter de renovação, intervenção e compromisso. Este é concerto com “sabor a Festival MED”.
No dia 8, às 21h00, há teatro, com “Another Rose”, de Sofia Santos Silva. No Dia Internacional da Mulher esta peça de Sofia Santos Silva propõe uma colaboração com o Gulabi Gang, um grupo ativista sediado em Uttar Pradesh, no norte da Índia. O grupo foi fundado por mulheres como resposta à violência sistémica e à discriminação generalizada de uma sociedade assente em práticas e costumes patriarcais que banalizam a violência sobre as mulheres. Sampat Pal, líder do grupo, inicia este espaço de luta, de forma a consciencializar as mulheres sobre os seus direitos constitucionais e mecanismos de defesa no combate às desigualdades de género enraizadas. O espetáculo acaba por destacar a importância de todo o tipo de irmandades, em qualquer contexto e realidade, que iniciam espaços de resistência. O projeto Another Rose, de Sofia Santos Silva, venceu a 4ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço.
No dia 9, às 21h00, Svetlana Bakushina lança o álbum “Algarvia” no Cineteatro Louletano. O concerto traz uma fusão dinâmica de jazz, música clássica contemporânea, étnica e rock progressivo. A equipa principal inclui Svetlana Bakushina no piano e cravo, Seibas Gamboa no violoncelo e baixo e Jorge Carrilho na bateria. Como artistas convidados, aparecem a soprano Michele Tomaz e a artista de projeções de videoarte Anastasia Maystrenko, entre outros. Prepare-se para música erudita com um toque de humor e imagens cativantes, num concerto com o selo e a inspiração do Festival MED.
A 12, terça-feira, também às 21h00, mas no Auditório do Solar da Música Nova, um toque de França. É mais uma sessão do Ciclo de Cinema Francês, organizado pela Alliance Française Algarve. Desta vez, o filme é “La Fracture”, de Catherine Corsini (2021). Raf e Julie, um casal no limite da separação, acabam num Serviço de Urgências na noite de uma manifestação parisiense dos Coletes Amarelos. O seu encontro com Yann, um manifestante ferido e furioso, vai estilhaçar as certezas e os preconceitos de cada um. No exterior, a tensão sobe. O hospital, sob pressão, deve fechar as portas. O pessoal está sobrecarregado. A noite promete ser longa… A entrada é gratuita.
No fim de semana de 15 a 17, Loulé lança pela primeira vez o “Mercado Periférico”, numa organização da Associação Vencidos da Vida em coprodução com o Cineteatro Louletano. O Mercado Periférico é um evento cultural de 3 dias centrado no universo da música emergente. Decorrerá em vários espaços, incluindo o Cineteatro Louletano, o Palácio Gama Lobo, o Auditório do Solar da Música Nova e o bar Bafo de Baco. O conceito assenta na divulgação e promoção de projetos musicais de editoras independentes nacionais, sendo, em simultâneo, uma montra e uma mostra através da exposição e venda de discos, cd’s e cassetes.
Esta primeira edição, em Loulé, contará com múltiplos concertos incluindo artistas e projetos ligados às editoras participantes, envolvendo público, músicos, vendedores e promotores, empurrando para fora dos grandes centros toda a efervescência criativa que a música emergente traz consigo. Haverá ainda dois workshops, com inscrições através do email cinereservas@cm-loule.pt
Também neste fim de semana, a 16, decorrem os já habituais concertos Crescendo, no Auditório do Solar da Música Nova. Estes concertos dão-se sempre no 3.º sábado de cada mês, às 11h30 e envolvem professores e alunos do Conservatório de Música de Loulé – Francisco Rosado, numa forma espontânea e regular de mostrar à comunidade o trabalho desta escola pública de música, aproximando a música erudita da população de Loulé. A entrada é gratuita.
No domingo, 17, de manhã, às 11h30, há ainda espaço para mais um concerto Promenade, pela Orquestra do Algarve, no Cineteatro Louletano. Desta vez, o mote é “O Rei diverte-se!”, com direção do Maestro Henrique Constância e mediação do barítono Rui Baeta. Neste concerto, são convocados três mestres da ópera francesa: Massenet, Gounoud e Delibes. Sem recorrer à música lírica, através da expressão instrumental, as suas partituras animam a fantasia de histórias de marionetas e do tempo dos reis e cavaleiros andantes.
A 19, também no Cineteatro, às 21h00, há dança, no âmbito do RHI 2024. O RHI (Research, Hope, Imagination) já vai para a sexta edição, este ano sob o mote “Think Arts, Talk Business, Make Culture” (pensar as artes, falar de negócios, fazer Cultura). Trata-se de um evento que percorre várias cidades de norte a sul do país, e que pretende fazer a ponte entre programadores e curadores estrangeiros e criadores e artistas nacionais, promovendo, sempre que possível, a internacionalização destes últimos.
Desta vez, como parte deste intercâmbio de culturas, o RHI traz a Loulé a Companhia de Ballet de Niterói, para apresentar “Pedra Doce – Poética de Cora Coralina”. A peça fala da simplicidade na poesia e na vida de Cora Coralina, relacionando a sua escrita, os seus ímpetos e necessidades em escrever, com a dos corpos dos bailarinos ao ler (ou ouvir) os seus poemas. A coreografia foi criada pelos próprios bailarinos. Por se autointitular doceira, o nome “Pedra Doce” remete para o açúcar utilizado para glacear as frutas que, após dias a secar ao sol, se tornavam pedras deliciosas. Na plateia, o público será contagiado pelo aroma do doce de coco feito em cena. A dramaturgia do espetáculo foi conduzida pela coreógrafa Ana Vitória Freire e a direção artística e conceção é de Fran Mello. Como habitualmente o RHI traz também dois workshops, uma palestra e visitas a ateliers de artistas locais. A entrada é gratuita.
No dia 21, quinta-feira, a partir das 19h00, mas no Palácio Gama Lobo, há um Workshop de Danças Tradicionais Moçambicanas, com alguns dos bailarinos que estão no centro de uma outra peça de dança, desta vez dirigida pelo conhecido coreógrafo Victor Hugo Pontes. Neste workshop de danças tradicionais, brilham a “Marrabenta” e a “Ngalanga”, oriundas do Sul daquele país africano. Três dos bailarinos que integram o elenco de “Bantu” vão partilhar com os participantes esta face do património cultural de Moçambique, abordando áreas como o movimento, o ritmo, o canto, a energia e os seus significados. A entrada é gratuita, mediante inscrição através do email cinereservas@cm-loule.pt.
No dia seguinte, a 22, pelas 21h00, “Bantu” sobe ao palco do Cineteatro Louletano. “Bantu” designa uma família de línguas faladas na África subsariana: é identidade e é comunidade. Mas Bantu pode ser mais que isso: uma linguagem própria que sobreviveu às línguas europeias impostas; um mecanismo identitário; um signo vedado ao colonizador; uma forma de comunicação, plena de códigos culturais, históricos, religiosos e políticos; a materialização efémera de um longo encontro. A palavra “Bantu” acolhe tudo o que queremos ou imaginamos que o espetáculo Bantu seja. O que Bantu será, contudo, depende dos olhos de quem vê. A criação teve origem num convite endereçado a Victor Hugo Pontes pelos Estúdios Victor Córdon e pelo Camões – Centro Cultural Português em Maputo, para o desenvolvimento de uma nova criação de dança com intérpretes moçambicanos e portugueses. Os EVC e o Camões – Maputo são parceiros numa programação conjunta para três temporadas, que visa criar pontes entre Portugal e Moçambique e promover a circulação e internacionalização da dança. A sessão de “Bantu” terá o recurso de Audiodescrição, para cegos e/ou pessoas com baixa visão.
No dia seguinte, sábado, 23, também à noite, às 21h00, Loulé acolhe a 24.ª edição do Festival de Música Al-Mutamid, que traz ao palco do Cineteatro Louletano a Orquestra Al-Qarawiyin, com sonoridades e ritmos do Magreb. O espetáculo contará ainda com a participação de uma bailarina de dança árabe-andalusi, exemplificando estilos de dança do período muçulmano (711-1492) na região al-Andalus. Este é um concerto com o selo e a inspiração do Festival Med.
A 24, domingo, o Cineteatro Louletano acolhe o concerto de abertura do FITA, que já vai na sexta edição. O FITA – Festival Internacional de Trompete do Algarve aposta este ano em talentos nacionais, trazendo alunos, professores, todo o tipo de instrumentistas de metais de toda a parte do país. A 24, pelas 21h00, no Cineteatro toca o decateto de metais Portuguese Brass, enquanto que no dia 25, no Auditório do Solar da Música Nova, há Trumpet Ensemble Reunion (18h00), Grupo de Metais do Seixal (21h30) e às 23h00 uma Jam Session no Café Calcinha, com o convidado Marc Chevalier. Chevalier estudou na Northwestern University em Chicago e apresenta-se regularmente com a Orquestra Sinfónica Orchestra XIX, o Collectif 30 e em recitais de trompete e órgão. Como músico de jazz, tem também tocado regularmente em vários trios, bem como na Amazing Keystone Big Band,. O FITA ’24 inclui ainda, como habitualmente, várias masterclasses e ainda uma conferência/debate com os Portuguese Brass e outra sobre o Trompete Barroco, falando sobre o grupo de trompetes da Casa Real Portuguesa no séc. XVIII, pelo Dr. David Burt.
A fechar o mês, no dia 27, Dia Mundial do Teatro, uma estreia: É “Falarte”, uma coprodução do TEatroensaio e do Cineteatro Louletano. Eduarda Dionísio criou 4 personagens femininas míticas do teatro, nas vozes de Clara Nogueira, Catarina Rapazinho, Inês Leite e Márcia Gomes. Mulheres inteiras, árvores assoladas no espaço-tempo da guitarra de Eduardo Baltar Soares e imagens vídeo de Mafalda Salgueiro, numa estória que nos traz as falas, as vozes de personagens míticas femininas do Teatro. Expondo um espaço íntimo, construído em torno da sua respiração e dos seus silêncios, levando-nos ao universo destas figuras trágicas que falam aos que amam, com toda a verdade crua.