Cultura

Encontros Literários “Verão Azul” em Portimão evocam os centenários de quatro notáveis poetas portugueses

Há um século nasciam quatro poetas notáveis, que viriam a tornar-se figuras incontornáveis da cultura portuguesa do século XX (Mário Cesariny de Vasconcelos, Mário-Henrique Leiria, Eugénio de Andrade e Natália Correia), que a Biblioteca Municipal de Portimão vai homenagear na edição deste ano dos Encontros Literários “Verão Azul”, marcados para as tardes de 1, 8, 15 e 22 de julho no Jardim 1º de Dezembro.

Inspirados no título do livro “Agosto Azul” do escritor portimonense e ex-Presidente da República Manuel Teixeira Gomes, a Biblioteca Municipal de Portimão dedica a terceira edição destes encontros literários à celebração dos centenários do nascimento dos poetas, em quatro conversas entre especialistas.  Nas três primeiras conversas, o ator Luís Lucas fará a leitura de poemas dos autores homenageados, ao passo que na última a leitura ficará a cargo da atriz Lia Gama. 

Com esta iniciativa, que acontecerá sempre a partir das 18h30 no ambiente floral do Jardim 1º de Dezembro, a Câmara de Portimão, através da Biblioteca Municipal, visa celebrar a vida e obra dos poetas homenageados, incutindo um cunho cultural à convivialidade proporcionada pelo espaço público onde a iniciativa terá lugar, em pleno centro da cidade.

Sob curadoria de Carlos Vaz Marques, que também moderará os encontros programados, a primeira sessão está agendada para 1 de julho e nela Maria Antónia Oliveira, autora de estudos biográficos sobre autores portugueses, e Pedro Mexia, poeta, cronista e crítico literário, falarão sobre as “Palavras acesas como barcos”, do poeta surrealista Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006).

A segunda sessão, em 8 de julho, será dedicada a Mário-Henrique Leiria (1923-1980), com a participação de Tânia Martuscelli, professora de literatura portuguesa na Universidade do Colorado, e Fernando Cabral Martins, professor de Literatura Portuguesa na Universidade Nova de Lisboa, que darão a conhecer a multifacetada obra do poeta que escreveu os “Contos do Gin Tónico”.

Na terceira sessão, marcada para 15 de julho e consagrada a Eugénio de Andrade (1923-2005), o poeta e ensaísta Nuno Júdice e Maria Bochichio, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, darão voz às “Palavras Interditas” que o poeta legou.

Na quarta e última sessão, em 22 de julho e dedicada a Natália Correia (1923 -1993), o escritor João de Melo, que conviveu com a poetisa nos Açores, e a escritora Filipa Martins, autora da recém-publicada biografia de Natália, intitulada “O dever de deslumbrar”, evocarão a voz da ‘mátria’ portuguesa.

Curriculum vitae dos conferencistas

Maria Antónia Oliveira (Viseu, 1964) é doutorada em Estudos Portugueses com a tese Os Biógrafos de Camilo. Corresponsável pela edição da obra de Alexandre O’Neill na editora Assírio & Alvim, publicou o premiado ensaio A Tristeza Contentinha de Alexandre O’Neill (Caminho, 1992) e Alexandre O’Neill, Uma Biografia Literária (Dom Quixote, 2007). Além do trabalho em torno de O’Neill, prefaciou e posfaciou obras de Mário de Sá-Carneiro e de Bocage. Foi professora de Literatura Portuguesa, Literatura Francesa e de Língua Portuguesa no Instituto Piaget, entre os anos de 1994 e 2005. Tem proferido várias conferências, nacionais e internacionais, sobre a obra de Alexandre O’Neill e assinou a dramaturgia da peça Portugal, Meu Remorso, a partir de textos de O’Neill.

Pedro Mexia é poeta, cronista e crítico literário. Tem participado em programas de rádio e televisão, entre os quais PBX e Governo Sombra e, atualmente, no seu sucessor, Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer. Foi subdiretor e diretor interino da Cinemateca. Exerce funções de consultor cultural do Presidente da República. Publicou cinco volumes de diários, sete livros de poemas, antologiados em Poemas Escolhidos (2018), e sete coletâneas de crónicas, a penúltima das quais, Lá Fora (2018), venceu o Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores. Organizou antologias de Agustina Bessa-Luís, Rui Knopfli, Nelson Rodrigues e Graham Greene. Traduziu poetas e dramaturgos como Hugo Williams, Tom Stoppard e David Mamet. Coordena a coleção de poesia da Tinta-da-China. É co-diretor da Granta em Língua Portuguesa.

Tânia Martuscelli é crítica de literatura e de arte e ocupa o cargo de Professora Auxiliar no Departamento de Espanhol e Português na Universidade do Colorado, em Boulder, nos Estados Unidos. Especializou-se nas áreas de literatura e cultura dos séculos XIX ao XXI em língua portuguesa. A sua investigação tem por cerne as vanguardas portuguesas e os estudos transatlânticos, sobretudo entre Portugal e o Brasil. Além dos seus livros Mário-Henrique Leiria Inédito e Linhagem do Surrealismo em Portugal (2013) e (Des)Conexões entre Portugal e o Brasil – Séculos XIX e XX (2016), Martuscelli colabora com diversas revistas especializadas em arte e literatura no mundo, como Colóquio/Letras, Brasil/Brazil, Modernism/modernity e Portuguese Studies.

Fernando Cabral Martins é professor de Literatura Portuguesa na Universidade Nova de Lisboa. É autor, além de livros de ficção, de artigos e livros sobre a literatura e a arte portuguesas: Cesário Verde ou a Transformação do Mundo (Comunicação, 1988), O Modernismo em Mário de Sá-Carneiro (Estampa, 1994), O Trabalho das Imagens (Aríon, 2000), Julio. O Realismo Mágico (Caminho, 2005). Organizou várias edições de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Alexandre O’Neill e Luiza Neto Jorge (na Assírio & Alvim, a partir de 1996). Coordenou o Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português (Caminho, 2008).

Nuno Júdice nasceu na Mexilhoeira Grande, Portimão, em 1949. Professor universitário, assumiu em 2009 a direção da revista Colóquio-Letras da Fundação Calouste Gulbenkian. É um dos mais importantes nomes da poesia contemporânea. Recebeu os mais importantes prémios de literários nacionais e internacionais, entre os quais: Pen Clube (1985), Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus (1990), da Associação Portuguesa de Escritores (1995), Bordalo da Casa da Imprensa (1999), Cesário Verde e Ana Hatherly (2003) e Fernando Namora (2004). Em 2013, foi distinguido com o XXII Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana (Espanha); em 2104, com o Prémio de Poesia Poetas del Mundo Latino Víctor Sandoval (México); em 2015, com o Prémio Argana de Poesia, da Maison de la Poésie de Marrocos e o Prémio Literário Fundação Inês de Castro – Tributo de Consagração; e, em 2016, com o El Ojo Crítico Iberoamericano de Radio Nacional de Espanha.

Maria Bochicchio, filóloga, tradutora, é professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos. Como enquadramento e perspetiva de trabalho, interessa-lhe especificamente a investigação heurística, intertextual, tematológica de comentário filológico e hermenêutico. Tem vindo a dedicar-se nos últimos anos ao estudo e divulgação de poetas portugueses contemporâneos e a aspetos diversos das problemáticas inter-artes.

Filipa Martins nasceu em Lisboa, em 1983, e é uma premiada escritora, romancista e argumentista. Recebeu o Prémio Revelação, na categoria de Ficção, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), com Elogio do Passeio Público, o seu primeiro romance. Obteve ainda o Prémio Jovens Criadores do Clube Português de Artes e Ideias com Esteira. Em 2009, publicou o seu segundo romance, Quanta Terra. Em 2014, saiu pela Quetzal o seu terceiro romance, Mustang Branco, a que se seguiu, com a mesma chancela, Na Memória dos Rouxinóis (2018), Prémio Manuel de Boaventura. Finalista dos Prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, dedicou-se – nos últimos seis anos – a estudar a vida e a obra de Natália Correia, tendo sido coautora de um documentário e coargumentista de uma série de televisão sobre esta escritora açoriana. Acaba de publicar a biografia de Natália Correia, O Dever de Deslumbrar.

João de Melo nasceu nos Açores, em 1949, e fez os seus estudos no continente. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e foi professor nos ensinos secundário e superior. Entre 2001 e 2010, desempenhou o cargo de Conselheiro Cultural na Embaixada de Portugal em Madrid. Autor de mais de vinte livros já publicados (ensaio, antologia, poesia, romance e conto), algumas das suas obras de ficção valeram-lhe vários prémios literários, nacionais e estrangeiros, e foram adaptadas para teatro e televisão, estando traduzidas em Espanha, França, Itália, Holanda, Roménia, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos, México e Croácia. O romance Gente Feliz com Lágrimas recebeu os maiores galardões e continua a ser uma referência na sua carreira literária. Foi-lhe atribuído em 2016 o Prémio Vergílio Ferreira, coroando a sua brilhante carreira literária.

Curriculum vitae do curador

Carlos Vaz Marques nasceu em Lisboa a 28 de janeiro de 1964. Carlos Vaz Marques (1964) é jornalista, tradutor e editor. É coautor e coordenador do Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer, que sucede ao programa Governo Sombra, criado em 2008 na companhia de Pedro Mexia, João Miguel Tavares e Ricardo Araújo Pereira, e atualmente emitido pela SIC Notícias. É autor premiado também na rádio como na televisão, destacando-se, entre essas distinções, o Prémio de Jornalismo Científico pela reportagem «Dari, Primata Como Nós», sobre os chimpanzés da Guiné-Bissau, e o Prémio Autores, conquistado por três vezes: com o programa radiofónico Pessoal e… Transmissível, com o programa Governo Sombra e com a série documental emitida pela RTP Herdeiros de Saramago. Foi, até 2018, o diretor da revista literária Granta Portugal, publicada pelas Edições Tinta-da-china desde 2013. Dirige, também na editora Tinta-da-china, a Coleção de Literatura de Viagens, já com mais de meia centena de títulos publicados. Traduziu mais de uma dezena de obras literárias e tem quatro livros de entrevistas publicados, um deles no Brasil.

Curriculum vitae dos atores

Depois de uma estadia em Paris, Lia Gama estreou-se como atriz em Lisboa, no ano de 1962, com a peça Vamos contar mentiras, de Manuel Santos Carvalho. Em 1965, em Paris, frequentou a Escola de Teatro de René Simon. De regresso a Portugal, integrou o elenco do Teatro Estúdio de Lisboa, onde, sob a direção de Luzia Maria Martins, participou em várias peças entre 1966 e 1968. Em 1968 integrou o Teatro Experimental de Cascais, onde é dirigida por Carlos Avilez. Com uma longa carreira na área da representação, tem colaborado com diferentes companhias teatrais e tem sido dirigida por alguns dos mais importantes encenadores portugueses.

Luís Lucas frequentou o Curso Superior de Formação de Atores, no ainda Conservatório Nacional de Teatro. É membro fundador do grupo Comuna – Teatro de Pesquisa, com o qual participou em vários festivais internacionais de Teatro. Trabalhou com várias companhias de teatro como os Cómicos, Teatro da Cornucópia, Produções Teatrais Lda., Teatro da Graça e Projeto Intercidades. Tem interpretado vários personagens em projetos de televisão, entre eles: “Quer o Destino”; “Der Lissabon-Krimi”; “Prisioneira”; “Os Nossos Dias”, “Louco Amor”; “Dancin’ Days”, “Maternidade”; “Laços de Sangue”, “Regresso a Sizalinda”, “Mistura Fina”, “Deixa-me Amar”, “Olhos nos Olhos”, “Equador”, “Laços de Sangue”, Deixa que te leve”, voz da série “Conta-me como foi”. No cinema trabalhou com João Botelho, Solveig Nordlund, Jorge Silva Melo, José Álvaro de Morais, Eduardo Geada, Peter Lilienthal, Paco R. Baños, Valeria Sarmiento, Daniel del Negro, Margarida Gil, Manoel de Oliveira, Luís Filipe Rocha, João Mário Grilo e Joaquim Leitão. No teatro foi dirigido por João Mota, Osório Mateus, Jorge Silva Melo, Luís Miguel Cintra, Stephan Stroux, Carlos Fernando, Artur Ramos, Christine Laurent, António Feio, Alberto Lopes, São José Lapa, Rafaela Santos, Ana Támen e Carlos Alardo, interpretando textos de vários autores.