Mural de homenagem ao artista plástico João Azevedo está a nascer em São Brás de Alportel
No âmbito das comemorações do 25 de abril de 1974, o Município de São Brás de Alportel inaugura na próxima segunda-feira, 24 de abril, pelas 18h30, no centro de Alportel, junto à EN2, um mural de homenagem ao artista plástico João de Azevedo, que eternizará na aldeia onde escolheu viver grande parte da sua vida, uma capa de um dos discos de Zeca Afonso que foi da sua autoria.
Esta obra de arte urbana nasce de um desafio lançado pela família do artista, falecido a 26 de abril de 2020, e ao qual o município prontamente associou, tornando possível a realização do mural, produzido por Jaime Franco, com a participação artística do algarvio Sen e de Hugo Azevedo, Director de Fotografia e Realizador (sobrinho do artista).
A aldeia do Alportel, onde o artista viveu grande parte da sua vida, foi escolhida para receber esta obra que retrata uma das capas do cantor e compositor Zeca Afonso, da autoria de João Azevedo.
Homem “singular no olhar, são-brasense de coração, que à sua partida deixa saudade imensa pela sua dimensão de artista e sobretudo pela grandeza dos Homens Simples, que sempre trouxe no seu sorriso” e eterno defensor dos ideais do “25 de Abril de 1974”.
João de Azevedo nasceu em 1950 na Figueira da Foz e nessa cidade começou a expor as suas obras, como artista plástico, entre 1964 e 1967.
A participação em exposições individuais e coletivas continuou em Itália, nomeadamente em Roma, a cidade eleita pelo artista para residir até 1976. É nesse país que viria a conhecer José Afonso, quando esteve estava com Francisco Fanhais em Itália para gravar o disco República, para o qual João Azevedo foi convidado a escrever um texto de apresentação.
Posteriormente, foi autor das ilustrações do disco “Com as minhas tamanquinhas”, de José Afonso, editado em 1976.
Entre 1977 e 2001, João continuou a sua viagem pelo Mundo, uma inspiração constante para os seus trabalhos artísticos.
Viveu também em Moçambique, Níger e Timor, onde trabalhou como consultor nacional e internacional, para a Comissão Europeia e para a Organização das Nações Unidas, como perito de cooperativas e de avaliação. Essa passagem por Timor-Leste, em 2005 e 2006, valeu-lhe a série de pintura intitulada “Crocodilos” e uma outra “Refugiados”.
A partir de 2007, viveu sobretudo entre os Países Baixos e Portugal, onde desde há mais de três décadas mantinha morada, no sítio de Alportel.
Em 2012, São Brás de Alportel teve o privilégio de receber uma mostra dos seus trabalhos artísticos, numa exposição na Galeria do espaço “Zem Arte”, entretanto transformado em restaurante “4 à Mesa”.
Em 2014, quase cinquenta anos depois da sua primeira exposição, regressa à sua terra natal com «A voz do crocodilo». Realizou várias exposições na Associação José Afonso, no Núcleo de Lisboa, uma em 2015, “Com as minhas tamanquinhas”, outra em 2018, pelo 6º aniversário do Núcleo sob o tema “Refugiados/atravessamentos”, na qual é recordado como “detentor de uma técnica de desenho e pintura poderosos, tendo por base cores fortes e magnéticas que definiam ambientes de variadas culturas e marcavam fortemente o seu estilo”.
Em 2019, ilustrou o livro “Táxi”, do professor de Literatura Portuguesa da Universidade Nova de Lisboa, Fernando Cabral Martins. Foi também datada deste ano, sob o título “Ó Zeca canta para o povo!”, a última exposição de João de Azevedo, na Casa da Cultura em Setúbal, na última edição da Festa da Ilustração.
João de Azevedo foi ainda autor de todas as capas das agendas da Associação SOS Racismo, e em 2020 dedicou uma aos “genocídios modernos e atuais”.
Homem do mundo, de arte e de liberdade, João Azevedo deixou um percurso de vida singular, que deixou marca em São Brás de Alportel, em Portugal e no Mundo.