Assinalamento marítimo da área de refúgio da Culatra dos cavalos-marinhos da ria Formosa
O Ministro do Ambiente João Pedro Matos Cordeiro e a sua equipa, visitaram ontem, a área de refúgio dos cavalos-marinhos da Culatra, onde se concluíram recentemente os trabalhos de assinalamento marítimo. Estes trabalhos constituem um passo essencial para que os utilizadores da ria reconheçam as zonas de refúgio onde não é permitido navegar, garantindo assim a preservação mais eficaz e continuada dos cavalos-marinhos e o seu habitat natural na Ria Formosa. A sinalização das áreas de refúgio dos cavalos-marinhos resulta de um esforço conjunto entre a Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Algarve do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR) e do Almancil International Rotary Club.
O que motivou o decréscimo de 90% das populações de cavalos-marinhos na Ria Formosa?
Durante a última década, as populações de cavalos-marinhos da Ria Formosa sofreram um grande decréscimo devido a vários fatores decorrentes da atividade humana na ria. Um desses fatores foi a pesca ilegal, motivado pela procura destas espécies para venda no mercado asiático enquanto produto muito apreciado e valorizado para a medicina tradicional chinesa. Este impacto começou a ser detetado entre 2013-2015 e levou a um decréscimo súbito das populações, que devido à sua biologia e ecologia estão totalmente expostas às artes de pesca utilizadas.
Para além disso, a pesca ilegal (praticada por arrasto) tem também um impacto indireto nos fundos da Ria Formosa, o que provoca uma acentuada degradação ambiental e a qualidade dos habitats preferenciais e disponíveis para estas espécies e outras, as pradarias de ervas marinhas. A poluição sonora subaquática e fenómenos naturais de assoreamento (acumulação de detritos) em zonas perto das barras foram também identificadas como problemas para a conservação destas espécies.
A criação de áreas de refúgio para proteger os cavalos-marinhos
Após ter sido identificada e confirmada a drástica redução das populações de cavalos-marinhos entre os anos de 2018 e 2019, foi criado o Grupo para a Salvaguarda e Conservação da Populações de Cavalos Marinhos da Ria Formosa (GSCPCMRF). Este grupo inclui todas as instituições locais e nacionais que como poder decisivo e num ato conjunto poderiam ajudar a contribuir para a mitigação dos danos já impostos e propor e implementar medidas de conservação para o restabelecimento das populações de cavalos-marinhos na ria Formosa.
Uma das primeiras medidas criadas por este grupo foi a implementação de áreas de refúgio também conhecidas como zonas de santuário para os cavalos-marinhos. Numa parceria entre este grupo e as associações de pescadores locais foram criadas duas áreas marinhas de refúgio, uma na zona da Culatra (contígua ao Canal de Olhão) e outra no esteiro da Geada (contíguo ao Canal de Faro). Com a criação destas áreas pretendeu-se contribuir para a total proteção destas espécies, mas também avaliar sua utilidade, e com isso a eventual necessidade de multiplicar estas áreas e criar assim uma rede de proteção de proximidade reduzida, fator determinante para a biologia destas espécies. A monitorização das populações de cavalos-marinhos da ria Formosa, bem como das áreas de refúgio foram realizadas através do projeto HIPPOSAVE (financiamento MAR2020) da Universidade do Algarve.
O aumento surpreendente do número de cavalos-marinhos nas Áreas de Refúgio
Durante 2020 e 2022, foram realizadas campanhas de monitorização para avaliar o estado das populações das duas espécies de cavalos-marinhos. Concluiu-se que entre os anos de 2020 e 2021, os valores registados foram bastante baixos em concordância com os valores observados em anos anteriores. No entanto, em 2022 foi registado um aumento significativo da população destas espécies (seis vezes superior face às campanhas de 2020 e 2021). Apesar ter sido verificado que em alguns dos 25 locais monitorizados, os cavalos-marinhos ainda se encontravam ausentes ou presentes em números reduzidos, noutros locais foi observado um aumento significativo. Isto permitiu contabilizar um aumento global significativo na abundância de cavalos-marinhos agora observado na Ria Formosa.
A monitorização das Áreas de Refúgio também forneceu dados relevantes, verificando-se um aumento do número de cavalos-marinhos nestas zonas. Após a implementação destas áreas em 2020 através de editais das Capitanias (prerrogativa do POPNRF), e numa fase pré-sinalização, em 2021 a abundância de cavalos-marinhos dentro da área era já tão elevada (seis vezes maior) quanto a que veio a ser observada posteriormente em 2022 na Ria, valor que se manteve estável até hoje. Numa das Áreas de Refúgio foi ainda feita uma intervenção piloto de requalificação ambiental (igualmente operada no âmbito do projeto HIPPOSAVE) com recurso a estruturas artificiais. Nesta área verificou-se uma maior abundância de cavalos-marinhos que atingindo o seu pico de ocorrência, teve uma abundância 100% superior à da zona envolvente. Este facto permitiu concluir que a implementação destas áreas é por si só benéfico para estas espécies, mas torna-se ainda mais relevante quando conjugada com a existência de um habitat adequado.
Um futuro promissor!
A melhoria nos valores de abundância destas espécies é por si só um resultado bastante positivo e encorajador para a conservação do cavalo-marinho. A implementação das áreas protegidas, o melhoramento ambiental e as campanhas de sensibilização também ajudaram a contribuir para o interesse na proteção destas espécies. É, no entanto, vital, manter uma monitorização continuada das populações de cavalos-marinhos (dentro e fora das Área de Refúgio) de forma a poder dispor informação atualizada que permita gerir as medidas de conservação em vigor e se necessário reforçá-las, tentando evitar uma nova situação de quase desaparecimento tal como anteriormente. O assinalamento marítimo agora efetuado contribuirá para uma preservação mais eficaz e continuada das áreas de refúgio.
Outro objetivo será, numa próxima fase e considerando o efeito multiplicador destas medidas, identificar outras áreas que contribuam para o aumento da biodiversidade e proteção dos valores naturais.