Ambiente

Parceiros da rede Capt2 visitaram boas práticas de sustentabilidade hídrica no concelho de Loulé

O Jardim das Comunidades e a Infraquinta foram os dois pontos de passagem da visita técnica que a rede CAPT2 – Circularidade da Água: de Todos e para Todos realizou ao concelho de Loulé. Loulé recebeu os parceiros – Águeda, Mértola, Oeiras, Oliveira de Frades, Ponte de Sor e Guimarães, por via do Laboratório da Paisagem, este último o parceiro líder, fazendo igualmente parte desta rede o município de Lagoa (Açores). O perito que está a acompanhar o projeto, Eurico Neves, também marcou presença nesta jornada que teve por objetivo dar a conhecer, “in loco”, aos seus pares, um pouco do trabalho de Loulé em termos de sustentabilidade hídrica.

“Estamos aqui com um propósito comum: cuidarmos do maior bem natural que temos que é a água. Todos nós sabemos das dificuldades ligadas aos consumos de água. Cada um, nas suas especificidades, tem problemas e constrangimentos diferentes mas essa é a riqueza destas parcerias, o podermos trocar experiências e perceber que medidas é que nuns locais estão a ser implementadas mas noutros não fariam sentido e vice-versa”, disse o vereador Carlos Carmo na sessão de boas-vindas.

Após uma manhã marcada pela discussão sobre as matérias mais técnicas do projeto e o ponto de situação em cada um dos territórios da rede, à tarde os parceiros partiram para o terreno para ver de perto dois exemplos das boas práticas neste território.

No Jardim das Comunidades, em Almancil, foram recebidos por Manuela Moreira da Silva, a docente e investigadora da Universidade do Algarve que tem estado à frente de um projeto que pretende tornar este espaço público verde, que é o pulmão e o núcleo central desta vila, numa referência nacional em termos de sustentabilidade dos recursos naturais, seja ao nível da água, da energia ou do sequestro de carbono.

“Este jardim vai estar cada vez mais preparado para responder às necessidades das pessoas. E para isso temos que incorporar no seu funcionamento o conhecimento científico e usarmos a tecnologia que temos disponível. Para isso temos que garantir que vamos gerir este espaço recorrendo à menor quantidade possível de água, à menor quantidade possível de energia e potenciando ao máximo a sua capacidade para sequestrar o carbono e os poluentes atmosféricos”, explicou.

A criação de uma “blue-green infrastructure” para gerir a qualidade da água ou de uma aplicação que permitirá quantificar, por exemplo, o sequestro de carbono, mostrando a importância da vegetação neste jardim são algumas das iniciativas em curso que contam com o envolvimento da comunidade local.

Já na Quinta do Lago, a comitiva foi recebida por Pedro Pimpão, Presidente do Conselho de Administração da empresa municipal Infraquinta, entidade que tem sido responsável por um conjunto de boas práticas valorizadas e reconhecidas em Portugal em termos de eficiência hídrica e  reutilização da água. Este responsável e a sua equipa falaram aos presentes sobre o sistema de abastecimento de água, gestão de espaços verdes, reutilização da água e rega inteligente num território de excelência.

“A reutilização da água é, para nós, uma das principais áreas de intervenção. Temos um investimento fortíssimo para passar de 30% de rega de espaços verdes através da reutilização de água para 81%. Em relação à qualidade da água, tivemos, pelo sexto ano consecutivo, uma distinção por parte da ERSAR, entidade gestora no combate às perdas de água, atingindo um valor recorde abaixo dos 3%”, destacou.

No final da visita, a coordenadora local do projeto, Lídia Terra, fez um balanço positivo deste encontro e da apreciação por parte dos parceiros: “Todos me disseram que estavam muito agradados com o que viram! Mas para nós também tem sido um ganho imenso participar neste tipo de projetos uma vez que enaltece o nosso trabalho e aprendemos muito com a experiência dos outros municípios”.

Numa altura em que Loulé já viu aprovado seu Plano Municipal de Ação Climática, esta responsável acredita que será mais fácil a criação de um Plano Local de Ação Integrada na rede CAPT2. “Loulé tem um trabalho bem alinhado estrategicamente. Neste momento já tem ações em curso e tem metas definidas para aquilo que quer no futuro e aí pode estar a diferença. Este processo de trabalhar em rede acaba por ser uma validação junto de outros parceiros de matéria e projetos em que já nos encontramos a trabalhar, robustecendo e aprofundando os mesmos”, esclareceu.

Relembre-se que a Rede CAPT2 assenta a sua estratégia no desenvolvimento de um modelo de governança local que integre os diferentes agentes responsáveis pela gestão da água e que pretende incluir o cidadão como indutor de transformação para um modelo circular e participativo. Como objetivo último, está a conceção de um Plano Local de Ação Integrada  para o Ciclo Urbano da Água que contribua para as políticas de gestão da água e a orientação dos municípios na transição para uma economia circular.

O perito da rede, Eurico Neves, salientou a “heterogeneidade” dos parceiros com “realidades totalmente distintas” pelo que o que se pretende acima de tudo é que a partilha das boas práticas e o conhecimento no terreno das mesmas possa inspirar os parceiros. Até porque, como explicou, este “não é um projeto de implementação nem para resolver problemas mas um projeto para identificar problemas, através da colaboração a nível nacional entre cidades com grupos de ação local, com os agentes locais (juntas, universidades, empresas, cidadãos, associações), chamando-os a participar nessas soluções”. A ideia é que no final cada município tenha “um plano de ação efetivo, com soluções que possam melhorar aquilo que é o ciclo urbano de água no município e que possam vir a ser implementadas no terreno, recorrendo a financiamento”.

No futuro não fica de fora a possibilidade de alguns dos parceiros poderem abraçar projetos internacionais. “O que se pretende com este programa é não apenas resolver problemas nacionais mas aumentar a capacitação de municípios portugueses para poderem depois participar na solução de problemas à escala europeia, com os seus congéneres europeus”, realça, indicando por exemplo programas como o URBACT ou o ARISE.

Quanto a Loulé, sublinhou “o excelente exemplo das áreas de colaboração com a Universidade, as estruturas municipais que já foram criadas e o grau de autonomia que elas têm para gestão da rede urbana e reutilização das águas” e disse que, por exemplo, em relação à reutilização da água das piscinas para fins não potáveis para rega e outros fins “Loulé tem sido uma inspiração para os outros municípios da rede”.

É também com nota positiva que Carlos Ribeiro, diretor executivo do Laboratório da Paisagem do Município de Guimarães, parceiro líder desta rede, classifica o que viu.

“Loulé tem um trabalho excecional, está a mostrá-lo aqui aos parceiros e estamos em mais um momento de co-construção. Levo uma ideia que já tinha desde a primeira fase, Loulé tem sido muito especial na área ambiental, das alterações climáticas, do ponto de vista do modelo da governação e da sua proximidade com as universidades, com as empresas municipais, ao nível da inovação nesta área precisa da circularidade da água. Saímos daqui certamente reconfortados com aquele que tem sido o trabalho deste município, com mais ideias e mais desafios”, destaca o parceiro líder.

Promovido pela Direção-Geral do Território, o CAPT2 arrancou em setembro de 2021, está neste momento na segunda fase que irá prolongar-se até maio de 2023. O próximo encontro acontece em Ponte de Sor, no mês de junho.