Cultura

18º festival MED com novidades e novos espaços

As propostas multiculturais da 18ª edição do Festival MED foram ontem apresentadas, num momento oficial que decorreu no Cineteatro Louletano e que contou com um concerto da brasileira Bia Ferreira, a primeira artista confirmada para a edição de 2023.

São muitas as novidades neste regresso bastante aguardado do MED, no que respeita às diversas valências que constituem, cada vez mais, um complemento à componente musical. “A música é aquele vértice que é mais mediatizado mas o MED é muito mais, é uma experiência! E quando as portas do Centro Histórico se abrem para o festival é como se entrássemos num outro mundo e isso é que é a sua riqueza”, sublinhou Carlos Carmo, vereador da Câmara de Loulé e diretor deste evento.

E é para que o visitante possa vivenciar da melhor forma essa experiência que a organização introduziu algumas inovações. Desde logo, o MED vai extravasar o seu programa para outros locais do centro da cidade de Loulé, para além da Zona Histórica que tem sido o seu “habitat natural”.

O Cineteatro Louletano junta-se pela primeira vez ao cartaz do MED para receber o concerto de abertura do Festival, com Lina_Raül Refree, no dia 29 de junho, pelas 21h00. É também aqui que, a 2 de julho, pelas 17h00, a peça “Chovem Amores na Rua do Matador”, história escrita por Mia Couto e José Eduardo Agualusa (vencedor este ano do Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários APE/CML), vai estar em cena. “O teatro era uma valência do Festival que estava um pouco apagada e, com a presença do Cineteatro, achámos que esta era a oportunidade certa para termos aqui uma peça esta dimensão e que pudéssemos ter uma sala cheia”, ressalva o diretor.

Mas também a Literatura, setor que estava “um pouco adormecido”, vai ganhar em 2022 uma nova dinâmica, precisamente num espaço fora de portas. A Casa da Cultura será o parceiro e a sua sede, o recém-inaugurado edifício do Atlético, o lugar onde irão acontecer momentos de poesia, prosa e outros géneros literários.

Outro dos “palcos” fora do recinto é a Casa do Meio Dia, parceiro que abre as suas portas para receber, no dia 3 de julho, pelas 18h30, a conferência “Sustentabilidade Ambiental nos Festivais de Música”. “Alinhado com aquele que tem sido o trabalho da Câmara Municipal”, a Autarquia de Loulé e a APORFEST – Associação Portuguesa de Festivais de Música promovem uma iniciativa que contará com diversos oradores ligados ao jornalismo mas também representantes do mundo académico.

Ano após ano, o MED Classic leva ao interior da Igreja Matriz concertos de música erudita, mas terá nesta edição um novo palco já que as obras de reabilitação deste edifício eclesiástico inviabilizam a sua realização aí. Como tal, nos dias 30 de junho e 1 e 2 de julho, a Igreja de S. Francisco, outro espaço fora do casco medieval da cidade, acolhe os concertos de Rui Mourinho, Ensemble com Spirito e Duo Acordeão e Tuba – Surrealistic Discussion. Já no dia 3 de julho, o MED Classic regressa ao recinto, para levar ao Palco Matriz, pelas 21h00, o Ensemble de Flautas e a Orquestra de Sopros e Percussão do Conservatório. O diretor do Conservatório de Música Professor Francisco Rosado, Sérgio Leite, assume a curadoria desta valência. 

Como era expectável, os Banhos Islâmicos de Loulé, inaugurados este sábado, passam a integrar o programa e a incorporar a essência do MED. O espaço arqueológico estará aberto para visitas guiadas durante os dias do Festival enquanto que a área exterior (logradouro) vai receber o Palco Hamman (designação árabe para “banhos”)(antigo palco bica agora um espaço totalmente recuperado). Terra Sul, Suricata e Amar Guitarra são os artistas que integram aqui alinhamento musical.

Já o Cinema MED apresenta nesta edição uma forma diferente de experienciar a sétima arte: os Cine-Concertos. Os filmes exibidos (19h15) serão musicados ao vivo, mas neste espaço haverá também, diariamente, a atuação de DJs (22h15). As propostas são as seguintes: 30 de junho, “Todo o Cinema do Mundo”, Cineconcerto by JP Simões, e DJs Rui Pedro Tendinha/Marie Lopes; 1 de julho – “Sistema Sonoro” by Bando à Parte (Pedro Bastos, Jorge Quintela e Rodrigo Areias), e DJ Pedro Ramos (futura Rádio de Autor); 2 de julho – “Dentre” by Joaquim Pavão, e DJ Pedro Ramos (futura Rádio de Autor). No encerramento do Festival, a 3 de julho, pelas 22h30, é apresentado “Surdina” com cineconcerto by Tó Trips, o ex-Deab Combo que regressa a Loulé, desta vez a solo.

A curadoria do espaço volta a estar a cargo do crítico de cinema Rui Tendinha e a produção é do Loulé Film Office. O espaço funcionará Rua do Município, junto ao edifício da Câmara de Loulé.

O envolvimento do movimento associativo cultural do concelho é outra das notas deixadas pelo diretor durante a apresentação deste domingo, nomeadamente nas áreas das artes de rua. Mas também em relação a um novo palco – o MED Jazz. Nos Claustros do Convento, onde em anos anteriores se desenvolvia um espaço dedicado ao Fado, este ano é o Jazz que vai estar em destaque. Com a parceria da Mákina de Cena, decorrerão aqui os concertos com Vale, Juliette Serrad, Marco Martins’Low Profile, Heiko Bloemers, Maria Villanueva e Desidério Lázaro Quarteto, propostas auspiciosas os apreciadores (e não só) do universo jazzístico.

No que respeita às exposições, para além da Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo e dos Claustros do Convento, também a Rua do Município contará com uma instalação artística.

O Palco Arco volta a estar associado a um espaço de gastronomia, nas traseiras da Igreja Matriz, e que será animado pelos músicos residentes Eduardo Ramos, Marco Cristovan e Afonso Dias.

No MED Kids, espaço direcionado para os mais novos com atividades específicas desenvolvidas pela Biblioteca Municpal, onde os pais poderão deixar os seus filhos. Quanto aos tão apreciados espaços de gastronomia ou artesanato, Carlos Carmo destacou o facto de, cada vez mais, “o objetivo é ter uma coincidência entre os países que estão presentes ao nível musical com aquilo que podemos oferecer”.

Já o “Open Day”, o dia de entrada livre, será assinalado com um concerto especial com o guineense Remna. É no dia 3 de julho, às 21h45, no Palco Castelo.

Este ano o Festival MED contará, pela primeira vez, com a RTP como media partner, a par dos habituais Antena1, Antena2 e Antena3, além de muitos outros parceiros nacionais e internacionais que têm contribuído para projetar o evento em termos de comunicação.

Recorde-se que, no que toca à música, já foram anunciados os 33 artistas que irão atuar nos palcos principais. Mas em 2022, ao longo de 4 dias, o MED contará com 90 horas de música, 66 concertos divididos por 12 palcos ou espaços informais, mais de 330 músicos, 23 nacionalidades, e em estreia a Mauritânia, representada pela artista Noura Mint Seymali.

Para concluir esta apresentação, o diretor Carlos Carmo sublinhou que o que marca a diferença e está na base do sucesso do evento e a escolha musical diferenciadora: “Não olhamos somente aos nomes mas ao seu conceito. Ao conceito inicial que era o de um festival que andava à volta da Bacia do Mediterrâneo mas que, em bom momento, abraçou outros pontos globo. A diversidade musical e as sonoridades do Festival MED fazem dele um evento riquíssimo em termos musicais e um festival de referência não só no Algarve e no nosso país, mas que é reconhecido em todo o mundo”, realçou.

Os bilhetes para o Festival MED estão em pré-venda até ao dia 23 de junho, no Cineteatro Louletano e em www.bol.pt

Mais informações em:

www.festivalmed.pt ouhttps://www.facebook.com/festivalmedloule

Bia Ferreira dá “show no Cineteatro

Em 2023 vai subir ao palco do MED mas ontem esteve na apresentação do Festival para “servir um aperitivo” ao público. Bia Ferreira foi uma boa surpresa para quem desconhecia a sua carreira, agarrou o público e, certamente, terá casa cheia no próximo ano.

“Eu espero que a maior divindade que se faz presente aqui hoje, que é a Arte, consiga fazer morada no seu coração, consiga fazer transformação, e que você saia daqui diferente. Nós somos apenas um instrumento”, foram as palavras da artista no arranque do concerto. E no final, a opinião dos espetadores era unânime: “Fabuloso! Excelente!”. Há quase uma década, uma das mais destacadas vozes brasileiras no que diz respeito à comunidade LGBTQl+, ao racismo e à xenofobia, Bia Ferreira trouxe ao palco do Cineteatro Louletano esse espaço de esclarecimento, provocação, motivação e de luta por aquilo em que acredita, uma voz contra os problemas do seu país onde “a cada 23 minutos, um jovem preto é assassinado pela polícia”