Som riscado regressa em novembro, com cinco dias de festival
É já este mês, a 24 de novembro, que regressa um dos festivais mais originais e alternativos no que à música, som e imagem diz respeito, a sul do país: Festival Som Riscado.
O Festival vai decorrer em três espaços distintos, no Cineteatro Louletano, no Convento de Santo António e no Auditório do Solar da Música Nova, entre 24 e 28 de novembro, dando destaque, como é hábito, a projetos inovadores com diálogos experimentais entre música e imagem e em novas explorações ao nível da arte sonora.
O Som Riscado 2021 arranca a 24, às 18h00, com a inauguração em Loulé da instalação sonora “Multicanal Caveira”, no Convento de Santo António, em Loulé. Trata-se de uma Máquina de Som que nos traz uma experiência sensorial, onde a audição é o sentido explorado em exclusivo, para tentar contrariar o domínio omnipresente da visão no campo da música. A instalação, criada por Flávio Martins e com produção da Associação Folha de Medronho, tem conteúdos de Heitor Alves, George Silver, Miguel Neto e João Silva.
“Multicanal Caveira” dá a primazia à música, mas também ao ruído e ao silêncio, para que voltemos a ser apreciadores de audio em vez de meros consumidores de música. Na instalação são reproduzidos sons que vão do imersivo à cacofonia de um carrossel de feira psicadélico. Tecnicamente é um sistema de som 10.2, no escuro. Para uma pessoa de cada vez.
Ainda a 24, às 19h00, também no Convento de Santo António, tocam os Contracello, um duo que é um trio, com Miguel Rocha no violoncelo, Adriano Aguiar, contrabaixo e Mariana Vieira, compositora e técnica de audiovisual. Os Contracello trazem peças de Luciano Berio, Clotilde Rosa e Anne Victorino d’Almeida, entre outros, com imagens de João Pedro Oliveira, Marianne Harlé, Daniel Rondulha e Emanuel Pimenta.
A 25, às 21h00, no Cineteatro Louletano, chega “Encode”, uma peça multidisciplinar de Yola Pinto e Simão Costa. No ano em que celebram uma década de colaboração artística, a bailarina e coreógrafa e o pianista e compositor vão estrear a sua nova criação conjunta, “ENcode_we´ve got others under our skin”. “Encode” desdobra o modelo clássico da criação de um espetáculo na área transdisciplinar das artes performativas, reunindo artistas e instituições de Arte (música-artes performativas-artes visuais) e Ciência, que refletem, na sua diversidade, a abordagem transversal da pesquisa desta dupla de artistas. “O palco surge como se de uma sala de exposição se tratasse, na qual não há visitantes nem visitados, nem objetos nem sujeitos; todos são e fazem parte de um mesmo ecossistema interdependente. Testa-se uma abordagem a um novo conceito de ecologia, enquanto ato colaborativo de todos os organismos que o constituem”, explica a dupla.
A 26 de novembro, há “Música para Algarvios do Futuro”, às 21h00, no Auditório do Solar da Música Nova. O projeto parte do Visualista Tiago Pereira e do músico Sílvio Rosado recorrendo a alunos do Conservatório de Música de Loulé, com o objetivo de estimular os jovens a criarem peças novas. Os dois autores, que formaram os “Sampladélicos”, têm feito um trabalho notável na renovação das tradições musicais portuguesas, tendo por base as raízes tradicionais. Recorde-se que Tiago Pereira é o autor do programa da Antena 2 “A Música Portuguesa a Gostar dela Própria”, prometendo trazer a Loulé vários trava-línguas, bailes mandados, orações, cantigas, provérbios e lenga-lengas que serão trabalhados com os jovens músicos do Conservatório Francisco Rosado, em Loulé. Em suma: a criação de uma mensagem nova no presente, baseada no passado, a partir dos algarvios do futuro.
No dia seguinte, a 27, chega “Azenha”, às 17h00, também no Solar da Música Nova. “Azenha” é um concerto ilustrado, feito a dois: a música é assegurada pela guitarra de Rui Carvalho, mais conhecido como Filho da Mãe, e a parte visual pela artista plástica Cláudia Guerreiro. Uma viagem sensitiva a um sítio no Alentejo, onde viveram o escultor Jorge Vieira e a escultora Noémia Cruz, na casa onde, em tempos, D. Dinis tinha uma amante. Um “retrato” de amores cósmicos e intuitivos em sítios a que todos pertencemos, das impossibilidades do amor e das estranhas condições em que ele decide acontecer. Com a guitarra de Rui como pano de fundo, Cláudia pinta e cria cenários, usando figuras de papel em jeito de marionetas e movimentando luz num vidro, que é filmado e projetado. Tudo em tempo real.
A 27, mas à noite, no Cineteatro Louletano, há “Travessias”, com conceito, criação artística e direção de Marta Jardim, performance que estreou no CCB em Lisboa e que agora chega a Loulé. “Debater-se consigo no mundo” é o mote para a travessia de uma mulher nua em si, mulher que procura, que se procura, que está só e é polvo. Uma mulher que se revela, desdobrando-se em múltiplas linguagens, pondo a descoberto facetas, estados e emoções. Essa mulher cruza outra mulher e outra mulher. Mulheres que estão nuas em si. Que procuram. E que se procuram. Mulheres que se revelam, se desdobram, que tentam incessantemente perceber-se. Em “Travessias”, as mulheres jogam entre si, como se joga a vida.
No último dia do Festival, 28 de novembro, um dos momentos mais aguardados: concerto em Loulé de “A garota não”, no Auditório do Solar da Música Nova, pelas 17h00, seguido de uma conversa com o público.
“A garota não” é o projeto da cantautora Cátia Mazari Oliveira, ela que, sem artifícios, canta uma reflexão deliciosamente interventiva sobre os nossos tempos, fazendo uma abordagem atual, genuína e doce.
Com influências que vão desde o rap português ao folk americano, passando pela música popular brasileira e pelo pop britânico, “A garota não” canta o que dói por dentro, o que ri por fora, o que os dias trazem. Cantando os dias e a vida que neles se derrama, e o que mais a inspira, delicadeza, relações, sonhos, o respeito por quem está e a falta dele, o amor.
O Som Riscado 2021 fecha a 28 em grande com os “Sensible Soccers”, às 21h00, no Cineteatro Louletano. Com uma sonoridade difícil de compartimentar, os Sensible Soccers abordam estéticas variadas, não escondendo o gosto pelas melodias Pop. Fugindo ao convencional, optam na construção dos temas por estruturas e arranjos em progressão. Nos espetáculos ao vivo, a energia é quem mais ordena, tornando-os surpreendentes até para o público que melhor conhece o trabalho da banda.
Tal como em edições anteriores, o Festival continua a apostar em performances multidisciplinares integradas em instalações interativas, quer dirigidas à comunidade escolar quer ao público em geral e famílias. Também a componente de encomenda se mantém central, com a participação de artistas e estruturas de ensino sediados no Algarve.
Os bilhetes para os concertos pagos (existem vários gratuitos) vão estar à venda nas receções do Cineteatro e do Auditório do Solar da Música Nova, locais aderentes (Fnac, Worten, CTT e outros) e online em www.bol.pt
Para mais informações e reservas os interessados podem contactar o Cineteatro Louletano pelo telefone 289 414 604 (terça a sexta-feira, das 13h00 às 18h00) ou pelo email cinereservas@cm-loule.pt. A programação estará disponível no Facebook e no website do Cineteatro Louletano, ambos em permanente atualização.
O acesso por parte do público a toda a programação prevista no festival está sujeito ao uso obrigatório de máscara e às regras de higiene e segurança da DGS.