Clima – ZERO identifica as principais consequências das alterações climáticas em Portugal
Projeções preocupantes para a região mediterrânea identificadas no relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas divulgado ontem Clima – ZERO identifica as principais consequências das alterações climáticas em Portugal. Ontem, dia 9 de agosto de 2021, foi apresentado o relatório do primeiro grupo de trabalho do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas relativo aos fundamentos científicos das alterações climáticas. O documento apresentou o aviso mais severo de sempre da comunidade científica mundial sobre os efeitos das emissões de gases de estufa e consequentes alterações climáticas, antes do planeta atingir um aumento de temperatura superior a 1,5 ºC. A urgência de ação é realçada neste recente relatório do grupo de trabalho I do 6º relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas que indica que, no contexto europeu, a região do mediterrâneo apresenta grandes vulnerabilidades e menores oportunidades para lidar com as alterações climáticas. Consequentemente, os custos da inação face aos impactos das alterações climáticas assumem uma expressão ainda mais significativa para Portugal que está incluído nesta região. O Mediterrâneo é uma das regiões mais vulneráveis do mundo às alterações climáticas, porque há uma tendência de diminuição da média da precipitação anual, acumulada em cada ano, e já estamos a presenciar esta redução. Isso tem um impacto muito significativo em todos os países da região causando problemas no que respeita à agricultura, aos incêndios florestais e rurais e também aos recursos hídricos. A região do Mediterrâneo, que enfrenta atualmente incêndios sem precedentes na Grécia e na Turquia, terá ondas de calor, secas e fogos florestais ainda piores com impacto na agricultura, na pesca e turismo. A situação de Portugal é agravada pela exposição a eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor conjugadas com secas associadas a condições de enorme redução da humidade e à subida do nível do mar (fatores que causam potenciais cheias e galgamentos costeiros). Algumas regiões mediterrânicas poderão ver as suas culturas agrícolas cair 64% e a superfície de floresta queimada vai duplicar ou triplicar, em função dos esforços feitos para reduzir as emissões de gases com efeito estufa.Dezenas de milhões de habitantes serão afetados por maior escassez de água, riscos de inundações costeiras e ondas de calor potencialmente mortais.O documento do IPCC conclui ainda que só um aquecimento mundial abaixo dos 2°C – o valor limite presente no Acordo de Paris, sendo que o desejável é apenas 1,5 ºC – “permitirá manter as aglomerações costeiras, os sítios do património cultural, os ecossistemas terrestres e marítimos num estado viável na maioria das zonas da bacia” do Mediterrâneo. O Sul da Europa e a Península Ibérica são destacados como das regiões da Europa potencialmente mais afetadas pelas alterações climáticas, enfrentando uma variedade de impactos potenciais: aumento na frequência e intensidade de secas, inundações, cheias repentinas, ondas de calor, incêndios rurais, erosão e galgamentos costeiros. Devido às suas características geográficas, Portugal encontra-se entre os países europeus com maior vulnerabilidade a estas alterações. De forma mais específica, em Portugal, as alterações climáticas deverão ser cada vez mais uma prioridade nacional, pois a região Mediterrânica (e sua interseção com o Atlântico) apresenta-se como um hotspot, ou seja, uma zona geográfica de maior vulnerabilidade aos efeitos adversos das alterações climáticas. Entre esses efeitos, e como já referido anteriormente, estão em causa vulnerabilidades: à desertificação, à seca, aos fogos florestais, à erosão da linha de costa devido à subida do nível médio do mar e ao aumento de tempestades, à diminuição da produtividade agrícola, à dificuldade na manutenção de sistemas agrícolas mais sensíveis a limitações hídricas ou de produção tradicional, à propagação de doenças transmitidas por vetores, à poluição atmosférica, entre outros aspetos. Entre os dados avaliados pela ZERO, num dos cenários socioeconómicos mais críticos em termos de emissões (SSP5), em Beja, com um aumento global de temperatura de 1,5°C, a temperatura no verão aumentará 2,2ºC; num cenário de aumento de 2,0°C, o aumento será de 3,0°C; e num caso de um aumento global de 3,0 ou 4,0 graus Celsius, o aumento da temperatura será de 4,4°C e 5,6°rspetivamente. Isto é, a temperatura no verão subirá sempre e bem acima do eventual aumento global. Também para Beja, a redução da precipitação total anual será de 10,7%, 16,4%, 20,4% ou mesmo de 27,3% se o aumento global de temperatura for de 1,5, 2,0, 3,0 ou 4,0 graus Celsius, respetivamente. A ZERO relembra que no atual contexto de escalada dos desafios associados às alterações climáticas, urge a adoção imediata de ações de mitigação, que combatam as causas, e de adaptação, que minimizem os impactos, com vista a uma sociedade neutra em carbono e resiliente ao clima, adaptada às suas consequências, reduzindo a vulnerabilidade e em direção ao desenvolvimento sustentável. |