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Entidades públicas, empresas e sociedade civil debateram capital natural em conferência pioneira em Loulé

A projeção do vídeo de apresentação do aspirante a geoparque Algarvensis deu o pontapé de saída para a conferência “Capital Natural – Desafios do desenvolvimento sustentável”, um dos primeiros momentos de debate nacional em torno deste tema e que decorreu na passada sexta-feira, 2 de fevereiro, no Hotel Wyndham da Quinta do Lago, concelho de Loulé.

Uma sala cheia e muitos participantes em streaming ouviram perto de 20 oradores que trouxeram conhecimento, projetos, ideias e motivos para uma nova abordagem no que respeita à valorização do capital natural.

Durante a manhã esteve em foco a questão da biodiversidade, preservação, salvaguarda e recuperação dos ecossistemas. Desde logo pela voz de Humberto Delgado Rosa, diretor para a Biodiversidade da Direção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia sublinhou o facto de todo o “nosso desenvolvimento tenha sido feito à custa do degradar da biosfera”. As respostas políticas, nomeadamente a nível da União Europeia, como o Pacto Ecológico, foram um dos pontos da sua intervenção.

Numa altura em que a escassez hídrica está a centrar as atenções sobretudo à escala regional, José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, apresentou o Instrumento Territorial Integrado “Água e Ecossistema de Paisagem”. “O tema da seca na região é estrutural, não conjuntural”, afirmou. No quadro do Portugal 2030, falou de alguns dos projetos de intervenção previstos, cujo valor total ronda os 77,7 milhões de euros, como é o caso da possível futura Barragem da Foupana ou a dessalinizadora.

Miguel Freitas, docente da UALG e antigo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, e Nuno Gaspar de Oliveira, da consultora NBI, têm sido responsáveis pela Agenda de Sustentabilidade: Floresta, Biodiversidade e Desenvolvimento Rural do Concelho de Loulé 2020-2025. Juntaram-se a esta conferência para apresentar o trabalho que tem sido realizado ao nível de mapeamento e valoração dos serviços de ecossistema na Serra do Caldeirão. Dos projetos como a área classificada de âmbito local da Nave do Barão, ou os programas como Aldeias Resilientes, Vales Verdes e Condomínio da Aldeia, o foco tem sido o resgate de carbono.

Sendo que esta Agenda significou já um investimento na ordem dos 4 milhões de euros, Miguel Freitas deixou o desafio ao tecido empresarial para ser parceiro da Autarquia neste desígnio.

No encerramento da manhã teve lugar o debate moderado por João Ferrão, sobre os desafios e oportunidades da valorização do capital natural.

No arranque da tarde foi dada a voz às empresas que têm feito um caminho importante na valorização do capital natural e da sustentabilidade. É o caso do ALDI, com a aposta em medidas de redução energética e recursos; a Altri que, com o propósito de construir um mundo mais renovável, tem vindo a substituir os materiais de origem fóssil por renováveis, por exemplo criando fibras de madeira; o BPI que é uma referência na “banca sustentável”; a Brisa, com o projeto “Nature Posite” tem feito uma intervenção significativa ao longo dos 1100 km de rede operada; ou ainda a EDIA, empresa de desenvolvimento e infraestruturas do Alqueva, que valoriza o seu capital natural, a água.

Num segundo momento da conferência o destaque foi o tema dos mercados de carbono, com Luís Costa (Get2C) a falar do caso português, e Jacob Aboal Viñas (Agencia Gallega de la Industria Forestal) a abordar o inventário florestal contínuo na Galiza. Dos dois lados ibéricos, a ideia é trazer esta questão não apenas para o interior das PMEs mas também para as pessoas, “pois estas são mais sensíveis a nível ambiental”.

Ainda antes do encerramento, houve tempo para mais um debate sobre os mercados de carbono, moderado por Luís Rochartre.

Já no encerramento da sessão, o Ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, lembrou o facto de este ter sido um evento de grande relevância realizado precisamente no Dia Mundial das Zonas Húmidas.

Em dezembro de 2022, na cidade de Montreal, ao lado de quase 200 países, Portugal assinou, na 15ª Conferência das partes na Convenção das Nações Unidas para a diversidade biológica – a COP 15 da biodiversidade, “o compromisso de proteger 30% de terra e do mar até 2030”. No seu discurso, Duarte Cordeiro falou das iniciativas do governo português para cumprir esse desígnio, destacando, por exemplo, na componente marinha, a criação do parque natural marinho recife do Algarve, Pedra do Valado.

Além da proteção dos valores naturais do país, o responsável da pasta falou do incentivo à criação de sistemas que permitam promover o capital natural, seja ele florestal ou ao nível da proteção da biodiversidade.

Refira-se que, no início de janeiro, foi publicado o decreto-lei que institui o mercado voluntário de carbono em Portugal e estabelece as regras para o seu funcionamento. O diploma assume, entre outras metas, “o objetivo natural de trazer investimento privado a projetos de gestão ativa em propriedade privada” em que o Estado tem um papel regulador.

Já Vítor Aleixo, autarca de Loulé, fez um balanço muito positivo desta jornada em que a Câmara de Loulé teve como parceiro a BCSD, que agrega mais de 170 empresas de referência em Portugal e as ajuda na sua jornada para a sustentabilidade. “É provavelmente o primeiro debate público, a primeira conferência organizada para tratar o tema do capital natural. Considero que esta iniciativa é mais um acontecimento que ficará para a história dos bons acontecimentos deste Município”, notou o autarca Vítor Aleixo.

O presidente do Município realçou ainda o importante “trabalho de várias empresas do país que fazem da sustentabilidade um tema da sua atividade” e recordou que, no caso do concelho de Loulé, foi precisamente este o trabalho de sensibilização da Autarquia que permitiu que alguns dos grupos económicos que operam neste território antecipassem a realização de projetos na área da sustentabilidade, mais concretamente, na instalação de estruturas de produção de energia fotovoltaica.