Cultura

BoCA 2021 em Faro “Prove You Are Human”

De 3 de setembro a 17 de outubro, em Lisboa, Almada e Faro, a BoCA Bienal de Artes Contemporâneas reafirma-se como projeto “extradisciplinar” que desafia mudanças e reflexões, com uma programação que combina diferentes ritmos de projetos e de relações com artistas e instituições, apoiando-se numa transição de processos de produção e de criação, integrados, plurais e sustentáveis.

Prove You Are Human, o tema da 3ª edição da bienal, prende-se com um ativar de uma empatia radical com a história, reescrevendo e reinscrevendo narrativas coletivas no presente que, por um lado, proponham a abertura da história a uma coexistência biodiversa a múltiplas vozes e, por outro, respondam às urgências de um mundo contemporâneo em crise, provocado sobretudo pelas alterações climáticas.

Diante da presente desumanização a que assistimos, deparamo-nos perante o grande desafio das nossas vidas, que a pandemia veio tornar mais evidente: fazer da responsabilidade ética de vida e deste lugar ‘entre’ e ‘trans’, que desejamos construir, um lugar de amor. É para aí que se convoca a programação desta edição da BoCA, abrindo espaço à polissemia dos lugares de fala, pondo o dedo nas feridas do passado que ainda não enfrentámos, perspetivando um futuro possível para ser construído em conjunto.


Em Faro que, pela primeira vez, se fixa no mapa da BoCA, vão estar o realizador norte-americano Gus Van Sant, que estreia a sua primeira criação de palco com o espectáculo de teatro musical “Andy”, inspirado na história de Andy Warhol; Khalik Allah, outro realizador e fotógrafo norte-americano também fará o debute em Portugal, e mostra os rostos dissidentes das ruas de Nova Iorque através do filme “IWOW – I Walk On Water”, em estreia nacional; o realizador português Pedro Costa, que utiliza o vídeo, o teatro e a música com Os Músicos do Tejo, cria uma narrativa ficcional que volta a colocar a ênfase no pós-colonialismo; com um percurso internacional entre as artes visuais e a música, o português Luís Lázaro Matos apresenta a instalação escultórica e pictórica “Une vague joyeuse”; no projeto “On Revelations and Muddy Becoming”, Odete, artista multidisciplinar que opera no domínio da música, artes visuais, performance e teatro, mergulha num diálogo entre história, arqueologia e investigação para recuperar o lugar do mistério e da fantasia no tempo presente; a performance/espectáculo de António Poppe & La Família Gitana junta a poesia de Camões e os textos de Davi Kopenawa (dos Índios Yanomani) com música cigana; a artista portuguesa Tânia Carvalho e o músico e performer francês Matthieu Ehrlacher experimentam a tradição com o Rancho Folclórico da Casa do Minho de Lisboa, ao vivo; o primeiro texto teatral escrito pela rapper nacional Capicua, com a co-criação e interpretação de Tiago Barbosa, é apresentado no espaço natural; o encenador Tiago Cadete pensa sobre as migrações e os motivos que as sustentam em “Brasa”; o bailarino, coreógrafo e filósofo francês Noé Soulier apresenta uma coreografia constituída por um vocabulário corporal que tem desenvolvido ao longo de dez anos; a performance  de Joana Castro e Maurícia | Neves parte de uma situação de vulnerabilidade emocional para refletir um mundo em ruptura, em revolução.

A BoCA propõe ainda aliar a programação artística aos espaços naturais e, para tal, ao longo de 10 anos, desenvolve o projeto A Defesa da Natureza, inspirado no legado de Joseph Beuys (1921-1986). O gesto que compõe “Plantação de 7.000 Árvores” divide-se entre 7.000 plantações de novas criações (naturais e artísticas) de espécies autóctones, fertilizando um projeto a longo prazo, em que novos municípios e milhares de artistas nacionais e estrangeiros (onde se inserem os cidadãos comuns, aqui revisitados enquanto artistas) serão os agentes da construção de uma floresta de artistas e de obras de arte. Nesta diluição dos papéis entre natural e humano, e artista e não-artista, Beuys afirmou a icónica frase de que “todos podemos ser artistas”. À luz desta proposição, a direção artística da BoCA refere que “todos podemos salvar o mundo”. Agir nesse sentido é o passo necessário a dar para um teste de identidade que afirma a nossa humanidade. Todos os artistas – ou seja, todas as pessoas – são convidados a plantar uma árvore em Lisboa, Almada e Faro (as inscrições decorrem a partir do mês de outubro em www.bocabienal.org).

É precisamente neste lugar pulsante entre a arte e a natureza que se situa a série “Quero ver as minhas montanhas”, com curadoria de Delfim Sardo e Sílvia Gomes, e com a participação dos artistas Sara Bichão, Diana Policarpo, Dayana Lucas, Gustavo Sumpta, Gustavo Ciríaco, Musa paradisiaca e o coletivo Berru. As novas criações dos Musa paradisiaca e de Dayana Lucas marcam presença em Faro.

Nas palavras do diretor artístico da BoCA, John Romão, “se o CAPTCHA (Teste de Turing automatizado para distinguir entre computadores e seres humanos) é um teste de segurança conhecido como autenticação por desafio e resposta, a 3ª edição da BoCA lança o desafio Prove You Are Human (Prova Que És Humanx) e ouve respostas e questões, não só dos artistas que compõem a sua programação, como propõe ao público que faça o teste através das premissas que ela propõe, a partir da experiência estética, da reflexão e do convite à ação”.

A BoCA Sub21 é o projeto de caráter educativo e experimental da bienal que chama jovens até aos 21 anos para, durante cerca de 3 meses, acompanharem a programação e as questões que a mesma levanta. Em 2021 serão constituídos três grupos, em cada uma das cidades. O call para participação está aberto até 5 de agosto. Mais informações em bocabienal.org.