Saúde

Covid-19 posição pública conjunta dos Diretores dos Serviços de Doenças Infeciosas

Posição pública conjunta dos Diretores dos Serviços de Doenças Infeciosas dos maiores hospitais portugueses e do Colégio da Especialidade de Doenças Infeciosas da Ordem dos Médicos

Vivemos no primeiro mês de 2021 as angustiantes consequências do descontrolo da transmissão na comunidade da pandemia Covid-19. Neste momento, entendemos ser útil uma tomada de posição pública e afirmativa da Infeciologia.

Lembramos que há cerca de dez meses, desde o princípio da pandemia, os Serviços de Doenças Infeciosas, de primeira referência, tiveram – como lhes competia – a visibilidade da competência. Aos pregadores do apocalipse, contrapuseram a segurança de um trabalho continuado, com resultados. Fizeram saúde.

Seguramente, muitos outros Serviços de Doenças Infeciosas, em segundas linhas igualmente eficientes, mas silenciosas, desempenharam e vão continuar, com dignidade, a exercer as suas funções.

Há que apoiar e defender, mas também incentivar profissionais exaustos a quem se pede sempre mais um pouco do seu esforço. É determinante continuar a fazer o caminho – ainda longo – da fase de mitigação até à eliminação que já pensamos ver ao longe, ideia bem sintetizada por Margaritis Schinas: “o fim da pandemia está à vista, mas ainda não ao nosso alcance”.

Deixamos claro, sublinhando, o objetivo único desta tomada de posição: a melhor saúde para os portugueses. Posição conjunta que pretende ser um apelo e um alerta.

Uma posição comum, refletida e assumidamente construtiva de todos os Diretores de Serviço de Doenças Infeciosas em Hospitais de elevada diferenciação – de acordo com a Rede de Referenciação Hospitalar de Infeciologia, concertada com o Colégio da Especialidade da Ordem dos Médicos. Porque as opiniões informadas contam.

Neste contexto, os signatários deste documento:

  1. Reconhecem a gravidade da situação sanitária que se vive neste momento em Portugal, provocada pela pandemia de SARS-Cov-2 e que está a colocar uma colossal pressão sobre os Serviços de Saúde;
  2. Solidarizam-se com todos os profissionais de saúde que, com abnegação e sentido de responsabilidade, têm superado os limites da resistência humana para cuidarem dos doentes, COVID-19 e todos os outros;
  3. Constatam a escassez de recursos humanos disponíveis, por isso apelam ao Governo e, particularmente, ao Ministério da Saúde, para reforçar o Serviço Nacional de Saúde em meios materiais e humanos que permitam responder ao imenso desafio;
  4. Lançam um repto a todos os médicos, das diferentes especialidades, para que, à semelhança do que sucedeu na primeira vaga, não abandonem os colegas que estão na primeira linha de combate à COVID-19;
  5. Expressam a sua preocupação com o profundo impacto da pandemia na formação médica pré e pós-graduada;
  6. Lançam um repto a toda a população para que siga, escrupulosamente, todas as medidas de prevenção preconizadas pela Direção Geral da Saúde;
  7. Apoiam todas as medidas de confinamento que maximizem o efeito protetor conferido pelo distanciamento social, mesmo as que têm maior impacto na economia, pois o tempo atual é o da saúde que, se for bem-sucedido, poderá contribuir para a desejada recuperação económica;
  8. Aconselham uma modificação profunda do modelo atual de comunicação em saúde adotado pelos principais responsáveis, que esgotou totalmente as suas potencialidades e já não consegue mobilizar os portugueses;
  9. Sugerem ao Governo, e particularmente ao Ministério da Saúde, que se inicie desde já a preparação de um plano que permita evitar sucessivas ondas epidémicas, adotando medidas mais robustas de contenção dos futuros focos emergentes;
  10. 10.Aplaudem o início da campanha de vacinação contra SARS-Cov-2, embora as prioridades que foram definidas devam ser reavaliadas e eventualmente alteradas de acordo com as circunstâncias de cada momento, nomeadamente epidemiológicas, e de disponibilidade de vacinas;
  11. 11. Deixam, finalmente, uma mensagem de esperança a toda a população, com a certeza de que esta, como anteriores pandemias, também será debelada.

Álvaro Ayres Pereira
Diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte

António Sarmento
Diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de S. João

António Vieira
Presidente do Colégio da Especialidade de Doenças Infeciosas da Ordem dos Médicos

Fernando Maltez
Diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

Kamal Mansinho
Diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Ocidental

Rui Sarmento e Castro
Diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário do Porto

Saraiva da Cunha
Diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra

Fonte: Ordem dos Médicos